quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dr: João Pequeno










O Galo já cantou camaradas, raiou um bom dia. Hoje, João Pereira dos Santos, o querido João Pequeno de Pastinha, o Mestre João Pequeno, nascido há mais de 90 anos atrás, no interior baiano, recebe o título de “Doutor Honoris Causa”, concedido pela Universidade Federal da Bahia. Um dia nobre e de glória para esta universidade. Um dia nobre e de glória para os capoeiras.

Além de capoeirista, ao longo de sua vida, João também foi vaqueiro, agricultor, pedreiro e biscateiro. Fez de todas essas profissões seu ganha pão. Mas, como ele mesmo previra: fama, reconhecimento e condição de doutor só alcançou pelo exercício do oficio de capoeira. Nele se consagrou como Mestre da Capoeira Angola e patrimônio de todas as capoeiras, independente da sua vontade. A obra de João é nossa! É de domínio público.

Este título concedido ao mestre João Pequeno é motivo de alegria para a comunidade da capoeira (nacional e internacional). Percebe-se que o significado desta iniciativa da Faculdade de Educação (FACED/UFBA), não se esgota como um gesto efêmero de honraria. Não se encerra nos limites dos ritos da solenidade da autorga. Sabe-se que há mais realidade, no fundo deste ato simbólico de reconhecimento da importância cultural do mestre agraciado.

Há alguns anos, a FACED (assim como outras unidades da UFBA), experimentou oportunidades de convivência com mestres dos círculos tradicionais da capoeira e de outras manifestações da cultura afro-brasileira. Em muitas dessas oportunidades o Mestre João Pequeno se fez presente, quando transmitiu ensinamentos fundamentais para a prática da Capoeira Angola.

Nestas ocasiões suas lições artesanais mostraram a integridade, a originalidade da Angola e a compatibilidade dos princípios e saberes dessa manifestação com as formas eruditas de ensino superior. Tarefa de um doutor, conforme os procedimentos acadêmicos. E as lições por ele repassadas foram valorizadas pelas vanguardas educacionais e recomendadas para os programas educacionais de extensão extra-universitários. É muito justo que o título tenha sido solicitado pela Faculdade de Educação (FACED).

A amplitude do conceito de universidade pelos parâmetros do Prof. Edgar Santos, fundador da Universidade Federal da Bahia, alcançava as agências populares de cultura, vistas como universidades populares, como é a Academia do Mestre João Pequeno de Pastinha, fundada em 1983. Uma escola superior de ensino da Capoeira Angola, um núcleo educacional de transmissão de valores da civilização afro-brasileira. Escola responsável pela formação de muitos capoeiristas, hoje comprometidos, no Brasil e no exterior (onde alguns estão estabelecidos), em levar adiante o legado do mestre.

No mesmo tempo (1983) e lugar (Forte de Santo Antonio Além do Carmo) da fundação da sua Academia, João reabilitou o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA). Esta instituição, articulada por membros da “galanteria” da Capoeira Angola, funcionou dos anos 40 ao 70 do século passado, liderada pelo Mestre Pastinha. Enquanto existiu, o CECA foi um reduto de angoleiros e guardião dos destinos da Angola, com a finalidade de guiar os caminhos dessa capoeira na modernidade.

O CECA se orientava por princípios e métodos ortodoxos, fechado no lema: “Capoeira só Angola”. Assim armada, acreditava-se estar protegendo-a dos chamados “evolucionismos”, vistos como ameaças à integridade dela.

Nas mãos de João, o CECA permaneceu compromissado com a preservação da originalidade da Angola, de acordo como o padrão da Academia de Mestre Pastinha. Continuou sendo um abrigo para os angoleiros, mas as portas da casa se escancararam para todos os capoeiras. Todos, independente de cor, sexo, profissão, nacionalidade, condição social, cultura, país e estilo de jogo. Uma casa aberta para o mundo, em sintonia com os novos tempos, que, na época ameaçavam como vindouros para a capoeira. Não deu outra, e João foi um dos fazedores dessa contemporaneidade.

Haviam os que enxergavam na abertura instituída por João uma série de riscos ameaçadores da integridade da Angola. Ledo engano. Os atos de João, na época, principal guia dos destinos desta capoeira reverteram estas expectativas. Na Academia de João plantou-se a semente da revitalização histórica da Angola. Ela renovou-se com a presença de jovens alunos e partiu para dentro do universo da capoeira, passando a influenciar e/ou moldar a forma de jogar de todos os outros estilos.

Quem é do ramo ou por ele tem interesse sabe de como foi importante o comprometimento do Mestre para a expansão da Capoeira Angola pelo mundo. Missão delegada a ele pelo Mestre Pastinha. E, também sabe da gratidão que por ele têm os agentes das outras capoeiras, de todos os lugares - onde esta prática se manifesta -, pelos muitos ensinamentos que ele passou e repassou e pela força dada, no sentido da afirmação das outras capoeiras no cenário nacional e internacional.

Feliz destino terá a capoeira se tiver como espelho a grandeza do Mestre João Pequeno de Pastinha.


Data: 23 de abril de 2008
Horário: 17h30h
Local: Salão Nobre - Reitoria da UFBA
Rua Augusto Viana, s/n – Canela

2 comentários:

Capoeira Patrimonio Historico Nacional disse...

Estão de parabens as pessoas que tiveram essa ideia e colocou em pratica, foi mais que merecido esse titulo do Mestre João Pequrno pelo trabalho de preservação da Capoeira Angola e por toda dedicação que ele teve durante todos esses anos pera mesmam e uma vitoria dessa nossa cultura, que é muinto pouco valorizada no nosso pais, e que é hiper valorizada em outros paises honde hoje moram nossos melhores capoeristas.

Fernando Rabelo de Souza disse...

Fiquei muito feliz quando soube que Mestre João Pequeno, pelo seu saber de Capoeira, recebera, ainda que com imenso atraso, o grau de Doutor.